Os Malandros e Malandras trabalham na umbanda
nas giras de Exus, mas não são considerados Exus por muitos estudiosos dentro
da religião. São entidades mais comuns nos terreiros do Rio de Janeiro,
representando os boêmios, homens e mulheres que viveram a alegria dos bons
tempos da Lapa carioca, dos cabarés, bares, entre outros lugares físicos. São
chefiados pelo Sr Zé Pelintra e trabalham para qualquer tipo de causa quando
seus consulentes lhe conquistam a amizade. Vamos conhecer um pouco mais desta
falange, além do que os pontos cantados nos revelam.
Malandros
são considerados entidades de linha livre que trabalham nas giras de Exus pela
maioria dos zeladores. A maioria dos zeladores não consideram malandros como
Exus pelo fato dos Exus terem um tempo muito maior de evolução e de magia, por
terem desencarnado há muito mais tempo e por serem coroados dentro das linhas
de trabalho da Umbanda. Mas os Exus com certeza trabalham com estas entidades,
coordenando e se servindo da liberdade e agilidade que o povo da malandragem
traz. Trabalham com certeza irmanados em prol da evolução de suas falanges e
dos seus filhos de fé. Os Malandros e Malandras cultivam valores como a
fidelidade, a lealdade, a camaradagem e a amizade; quando amigos compram
qualquer briga justa de seus protegidos.
Por
esbanjarem alegria são queridos sempre dentro dos terreiros. A maioria das
entidades que trabalham nesta falange gosta de cerveja e de petiscos que
relembram os tempos da boêmia. Assim como os Exus, trabalham com cigarros ou
charutos e bebidas alcoólicas, com intuito de facilitar o trabalho, utilizando
as propriedades voláteis do álcool e usando o fumo como defumador. As cores
variam de acordo com a linha a qual são ligados, porém a maioria utiliza
vermelho e branco.
Há
de se ter muita responsabilidade dentro desta gira, pois pessoas sem instrução
evocam estes espíritos como vagabundos, prostitutas e marginais. Acabam dessa
forma trazendo para dentro da gira falanges de kiumbas e zombeteiros que trarão
efeitos contrários aos trabalhos. Por isso há a necessidade de se selecionar os
pontos a serem cantados, a maioria deles foi composto por pessoas de pouco
entendimento espiritual. A bebida também é algo que deve ser controlado dentro
destas sessões, bem como em todas as sessões de Exus. Muitos médiuns mistificam
através da bebida seu inconsciente. Exu e Malandros bebem o necessário para a
realização dos trabalhos, não o necessário para embriagar ou prejudicar o corpo
do médium. Da mesma forma os fumos dentro das giras não são tragados, são
utilizados apenas como defumadores.
Sr
Zé Pelintra é uma entidade de muita luz e que no Rio de Janeiro trabalha na
falange dos Malandros. Seu culto teve origem nos catimbós do norte e nordeste
do Brasil, sendo absorvido posteriormente pela umbanda. Sr Zé dentro do catimbó
é um Mestre Juremeiro, que traz o poder da cura, dos conselhos, gosta também de
bebidas, danças e da presença das mulheres. No Rio, onde a cultura do samba é a
mais disseminada dentre os Malandros da época, a falange de Sr Zé também
absorveu esta cultura; mesmo por que vários espíritos passaram a integrar esta
falange se apresentando com o mesmo nome de Zé Pelintra. Os nomes dos Malandros
são variados de acordo com seus lugares de origem ou atuação: Zé Pretinho, Zé
Malandro, Zé do Morro, Zé Da Lapa, Camisa Verde, Camisa Preta, Zé da Estrada,
Zé da Esquina, Zé do Cais, Malandrinho, Zé Malandrinho, Rosa do Cabaré, Maria
Navalha, Maria Rosa, Rosa da Lapa, Maria do Cais, Maria Homem, entre tantos
outros. Vale destacar que Maria Navalha e Maria do Cais tanto se apresentam
como Malandras, trabalhando numa linhagem mais livre, mais descontraída, como
também como Pombagiras, realizando e desfazendo trabalhos mais densos e
aceitando as mesmas oferendas das mesmas.
Estes
espíritos trazem os encantos da noite, a magia da música, da dança, da alegria,
dos amores impossíveis, da elegância da época em que viveram; descarregando
assim o ambiente onde trabalham e deixando a alegria no coração dos que neles
têm fé. Alguns consideram Zé Pelintra como egun de Luz, já que o mesmo não é
Exu, por isso muitos terreiros homenageiam Sr Zé próximo ao dia dos finados. A
I.U.L.A entende esta falange como uma falange encantada e de espíritos que
trabalham sob ordenanças de Exus coroados, homenageamos os Malandros nas proximidades
do dia 20 de novembro, por representar o dia da consciência negra, um dia de
consciência em prol de tudo que a raiz negra nos trouxe de importante, como a
cultura, o samba, a fé, lembrando que estas entidades quando vivas eram
discriminadas também.
As
oferendas para os Malandros variam entre sardinhas fritas, farofa de carne
seca, petiscos, churrasco, camarões, cravos para os homens e rosas para as
entidades femininas. Uma boa magia para se conseguir um verdadeiro amor nos
caminhos de Maria Navalha, uma dama protetora dos amores impossíveis é feita
com:
um padê de mel com 7 rosas vermelhas, com uma
carta de baralho da figura do rei de copas no meio da oferenda, acompanhado de
bebida fina e uma vela de 7 horas vermelha. As demais cartas circundarão o
trabalho e após três dias, as rosas irão compor um bom banho do rosto para
baixo e o rei de copas será envolvido em um saquinho de cetim vermelho que
deverá andar com a mulher sempre. O padê com as demais cartas será despachado.
Deve ser feito em lua nova. Esta mesma magia pode ser feita por homens, mas
será entregue a Zé Pelintra, a carta do meio do padê será a dama de copas e as
flores serão cravos vermelhos. Quando se é encontrado o amor a entidade deverá
ser presenteada novamente e o patuá com a carta será oferecido, pedindo a Maria
Navalha(mulheres) ou a Sr Zé(homens) que este amor traga felicidade e
agradecendo a graça.
Devemos
lembrar que toda magia depende do ingrediente principal que é a fé, através da
mentalização. Outro adendo importante é o fato de que só devemos recorrer as
magias se tivermos a real necessidade das mesmas, para que não haja
arrependimentos.
Outra
magia na linha dos malandros, mas para a prosperidade é oferecer ao Malandro Zé
do Cais na beira de uma praia ou próximo a um cais:
Um padê de dendê com sardinhas fritas, camarões
fritos, oito dados e oito moedas antigas, acompanhados de cerveja, velas azuis
e brancas. Mentalizar o pedido segurando uma das moedas e um dos dados, deixar
a oferenda e trazer a moeda e o dado, com os quais será feito um patuá num
saquinho azul. Deve ser feito numa lua crescente.